quinta-feira, 30 de junho de 2011

DO LADO DE CÁ DA CIDADE

Do lado de cá da cidade faz muito frio.
Talvez por isso os amigos bebam demais.
Talvez por isso eu sempre cruzo as figuras no cinema.
Do lado de cá da cidade existem acordos fraternos, talvez por
isso as pessoas estão sempre magoadas umas com as outras,
e choram tanto, e escrevem os nomes das outras em folhas
amarelas de cadernos, e bebem tanto.
Do lado de cá da cidade nunca faz sol.
Talvez por isso, tantos blues, tantos blues, e a garrafa de café
sempre vazia, os dedos calejados da máquina de escrever, e o
copo de gin pela metade.
Do lado de cá da cidade chove todas as noites, talvez por isso as pessoas tenham tantas idéias mirabolantes e irrealizáveis, talvez por isso as mesas no bar estão sempre reservadas, talvez por isso
eles bebem tanto.
Do lado de cá da cidade faz frio, existem acordos fraternos, nunca faz sol, chove todas as noites, as pessoas bebem demais,
e são todas muito sensíveis.
Eu já estive uma vez do outro lado da cidade, só uma vez.

Mario Bortolotto

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